segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Pássaro livre

O noivo estava nervoso. Era o dia do seu casamento.
- Pai, se arrume também - chacoalhou entre dentes nervosos e uma língua inquieta.
O pai respondeu calmamente:
- Daqui a dez minutos, filho.
Enquanto isso, em outro local, a noiva se preparava já havia algumas horas, nervosa também. Sua mãe acompanhava, de longe. Daria conselhos, se pudesse. Acalentaria sua cabeça e faria um carinho de mãe. Era o dia dela, seu dia de princesa.
E foi. Ao chegar no salão da festa, os noivos estavam alegres. Aquele sonho construído durante anos, havia se realizado. Todas as pessoas que haviam participado de suas vidas estavam ali. As mesas estavam decoradas com lindos passarinhos de crochê feitos à mão.
Por ironia do destino, em um dado momento da comemoração, dois pássaros entraram pela janela do salão. Os convidados se sentiram um pouco atordoados com a instabilidade do voo das aves.
- Nossa! Já imaginou se um deles bate no ventilador de teto? - sugeriu a noiva.
No mesmo momento, asinhas voaram pelo salão ao som do baque surdo do corpo de um dos animais. O destino do passarinho bateu de encontro a uma das hélices do vento. E então a noiva deixou de ser a estrela por alguns minutos. Um jovem recolheu os restos mortais da ave, enterrada como indigente em uma lixeira qualquer. E a festa continuou.
Pássaro, livre pássaro, ontem você perdeu a liberdade.