terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pra que comprar livros

Finalmente paguei a última e dolorosa parcela da minha sofrida faculdade de Letras (faculdade sim, porra, era assim que se chamava no passado, sem cultura!). Hoje foi o meu primeiro pagamento sem despesas estudantis! Ufa! Alívio! Nunca tive isso na minha vida. Pela primeira vez eu tinha na mão R$208,00 livres para eu gastar com a merda que eu quisesse da melhor (ou pior) maneira que eu preferisse.
Homem ligado às letras, decidi investir num instrumento de trabalho. Um livro de literatura contemporânea que não costuma ser leitura obrigatória nas escolas, mas que eu sempre tive vontade de ler: Encontro Marcado, de Fernando Sabino. As últimas palavras dele serviram como mensagem final para o meu convite de formatura e isso muito me despertou o interesse.
Resolvi destinar uma pequena parte do meu glorioso salário para comprar o livro, mas antes decidi comentar com minha mãe que muito me escuta e dá bons conselhos.
-Mãe acredita que eu achei um livro do Fernando Sabino, edição comemorativa dos 50 anos de lançamento por R$32,00 numa papelaria em Formiga? O preço de catálogo dele eh R$50,00!
Depois de uma longa pausa, ela desferiu o golpe mortal:
-Pra que comprar livro?
Aquilo foi a morte para mim. Minha mãe, uma ídola minha, graduada em letras pela Faculdade de Filosofia e Letras de Divinópolis (terra natal dela), com pós-graduação em Artes Industriais pela UFMG, professora por 30 anos no Polivalente e inclusive fundadora da escola, que trabalhou na biblioteca por dois anos em desvio de função, me perguntando pra que comprar livro? Pra que investir em cultura? Uma pessoa que trabalhou com as ciências humanas a vida inteira me perguntando por que não aplicar parte do meu dinheiro em obras literárias? "Pronto! Mais uma alienada na sociedade", pensei.
Mesmo com esse jato de dêsanimo, não desisti. Fui lá comprar o livro pra responder àquela pergunta profana. Mas não teve jeito, o livro havia sido vendido.
Se fosse meu irmão, aplicaria todo o dinheiro dele em roupas ou tênis e no final naum sobraria nem um real. Pois bem, peguei o dinheiro do livro e comprei duas camisas sem estampa por R$27,80 na Fonte dos Retalhos. Vou usar os cinco reais restantes pra comprar tintas e fazer uma estampa bonita em cada. E não contei isso pra minha mãe. Fiquei com medo dela me perguntar: "Pra que comprar camisa?"

domingo, 28 de dezembro de 2008

Poeminha japonês

Limpeza de banheiro (Benjo Soji)
Autor: Kunio Hamagushi

Eu abro a porta.
O cheiro alcança o âmago do meu cérebro.
Não consigo encarar diretamente.
É um "sujar" lamentável
De entorpecer os nervos.
O ar puro do amanhecer
Também fica contaminado.
Perco instantaneamente a vontade de limpar.
Tem uma merda de cocô no chão de dar raiva.

Por que não fazem com mais calma?
Será que o buraco estava torto?
Ou será que estavam com muita pressa?
Morrer de raiva
Não torna o banheiro mais bonito.
O meu serviço
É tornar as coisas mais bonitas.
Pode ser que a criação de um mundo mais bonito
Comece em lugares assim.

Eu mordo os meus lábios.
Encosto o pé na moldura da porta.
Jogo água lentamente.
Encosto timidamente a vassoura na merda do cocô.
Ploft! Ploft! Ela cai no reservatório.
Um ar insuportável se espalha...
Como se uma bomba de gás tivesse explodido no meu nariz.
O mau cheiro impregna na ponta da linha e no coração.
Fico perturbado quando o cocô espirra na queda.

O cocô seco não sai facilmente.
Passo areia na escova.
Eu meto a mão para esfregar.
A água suja respinga no meu rosto.
Ela respinga em meu lábio também.
Não posso dar atenção a isso.
Eu devo friccionar até ficar bonito.
Uso a mesma mão para limpar as mensagens eróticas e o cocô recoberto.
Eu apago um grande órgão sexual.

O vento acariciador da manhã
Ergue meu rosto do vaso.
Até a alma já está se acostumando com o cocô.
Eu jogo água.
Jogo muita água
Como se estivesse tirando o cheiro impregnado na alma.
Esfrego um pano.
Esfrego atenciosamente até atrás da latrina.
Esfrego com força como se fosse limpar a sujeira do mundo.

Jogo água mais uma vez.
Faço o acabamento com o pano de chão.
Espalho o desinfetante.
Um instante de frescor se desprende do líquido branco leitoso.
Eu sento e olho com uma sensação calma e feliz.
A luz da manhã reflete no vaso sanitário.
O líquido desinfetante
Ilumina o interior do vaso
Com um arco-íris.

Eu me lembro de minha mãe comentando
Que a mulher que faz um banheiro bonito
Também faz crianças bonitas.
Eu sou um homem.
Talvez eu encontre uma esposa bonita.

Poema traduzido por Arnaldo Masato Oka, tradutor da Editora JBC.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Agora é quando tudo termina

Quinta-feira passada, foi o último dia. Meus compromissos com o curso de Letras agora estão acabados. Recebi a presença dos meus amigos (peço perdão por não ter retribuído de uma maneira legal), muitos cumprimentos na rua, no Orkut e até alguns telefonemas (que muito me agradaram). Ao fim da caminhada, vem a D. Vida me pegar, o que me deixou meio introspectivo (fato pelo qual eu parei de postar aqui [desisti daquela idéia do livro de auto-ajuda]).
Por enquanto, é hora de juntar as asas antes de pensar em voar. Ver animes, ler mangás, livros (do mestre Fernando Sabino) e dedicar meu tempo a distrações simples do cotidiano. Um período para me dedicar a mim mesmo.
Agora que a espera está finalmente acabada, milhares de oportunidades aparecem aos meus olhos. O que é real, não parece ser e a ilusão se faz mais real à frente. É algo que você sente, mas não sabe explicar muito bem. Afinal, é agora que tudo termina e eu me tornarei livre.