sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Na sala de espera

Todo mundo insiste em falar sobre as horas. No entanto, meu tempo é curto demais para discorrer sobre elas. Prefiro falar dos minutos. Cada um é formado por 60 segundos, que podem ser míseros se você se sentir confortável, mas podem se tornar uma eternidade quando há pressa ou incômodo. As horas não passam, os minutos voam. E voam tão rápido que quando você percebe, já tem uma hora completa e nem percebeu. Uma hora que não passou.
O barulho intenso do tic-tac causa a impressão de que o minuto se tornara uma hora. O ponteirinho vermelho corre cada vez mais rápido deixando a respiração ofegante, o cérebro desconcertado e a mente cada vez mais doente.
Um homem chega. Calça jeans surrada, jaqueta de couro impecável, barba grande e cabelo curto bem aparados. A terra e areia do seu sapato denunciam que ele viera da zona rural. . E então aquela figura típica contradiz sua condição:
– Vim pagar o aluguel da sala 11.
– O aluguel aumentou – diz a atendente.
Surpreendido pelo aumento, o homem saca um tufo de notas contadas em cédulas de dois, cinco e dez reais. Sinal de que ajuntara todo o dinheiro para o aluguel daquele mês. A taxa passara de R$ 225 para R$ 255 e aqueles dolorosos R$ 30 saem de sua carteira num dó tremendo.
As horas ainda passavam. Não, os minutos passavam. As horas permaneciam inertes em seu lugar. A porta à frente rangia para cada funcionário que por lá passava. A mola que fazia a porta se fechar fazia a diferença entre novatos de veteranos. Os novatos deixavam a porta bater num estrondo assim que passavam por ela, Os veteranos, provavelmente já sabendo do efeito, amorteciam com a mão.
Range a porta subitamente para a passagem da pessoa a quem eu tanto esperara com afinco.
– Desculpe-me a demora, é que eu estava ocupado com outro serviço – diz.
– Não há do que se desculpar – respondo. O pensamento completado na mente: “Você me deu a oportunidade de escrever um bom texto”.

Esse texto foi escrito enquanto eu esperava um dos diretores do Bazar Guri.

Um comentário:

lalinho disse...

Tadinho do homem... 30 conto dá 3 panquecas