Pessoas normais no interior
acordam com o cantar do galo. Eu tenho, pois, uma história diferente e bastante
peculiar sobre o nascer do dia.
Perto da casa da minha mãe no
interior, há um córrego. Todos os dias por volta das cinco da manhã, a seriema
canta anunciando o amanhecer. Começa com aquele barulho intermitente e agudo
formado por duas míseras notas musicais que meus parcos conhecimentos em música
não permitem dizer se sol e fá ou se fá e mi ou se qualquer outro tom.
Certo é que os bichinhos cantam
religiosamente antes do sol nascer e às vezes durante a madrugada, o que dá certo
ar sombrio e medonho à noite. Confesso que o canto da seriema sempre me
aterrorizou, principalmente, entre o período de quatro às seis da manhã, quando
eu tinha de acordar para estar religiosamente no quartel às seis em ponto,
durante o serviço militar obrigatório.
Nunca soube determinar se a
seriema do canto era uma ou se um bando, pois animais não costumam viver
sozinhos na natureza. E quando vivem sozinhos, não sobrevivem muito tempo. Outra
coisa que me impressiona é ninguém ter dado conta do bicho ainda, não é
possível que ele incomode somente a mim. Isso me fez concluir que a seriema
pudesse ser na verdade as seriemas.
O cantar dos bichos sempre me
intrigou até que um dia passando pelo tal córrego depois de muitos anos de
existência eu finalmente conheci o terror de minhas madrugadas mal dormidas.
Ali estava o pássaro, de penas brancas com pescoço encurvado e pernas finas
como um palito de picolé. O bicho tinha uma corcunda de dar dó, mas como
qualquer animal da natureza divina era perfeitamente elaborado em gracejo.
Confesso, me apaixonei pela
seriema. Mas ao lembrar de seu canto, veio à tona a vontade de matar o bicho e
por fim àquela sensação estranha da madrugada. Pensei e hesitei, o animal me
cativara. E ele realmente não estava sozinho! Havia três seriemas que eu pude deduzir
eram uma família que vivia ali.
Hoje a seriema não cantou. Sinto
falta dos meus amiguinhos...
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